quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CAPITALISMO COM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? OU SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA CAPITALISTA ?

por Taysa S Bensone


O mundo atual apresenta-se sob a dinâmica do capital. Sua estruturação- social econômica e física- funciona como uma máquina regida pelo sistema, que visa o produto final: o lucro. Os mecanismos que dão propulsão a esta máquina, se associam com o propósito de produzir, reproduzir e acumular lucros- ou seja, a natureza, os processos econômicos e sociais, as políticas privadas e públicas, a gestão e segregação territorial, compactuam em prol do funcionamento do sistema e em defesa de seus interesses.
Temos então, um enredo e seus personagens: a máquina (o mundo), a estrutura (sociedade, natureza e gestão), o funcionamento (regido pelo sistema capitalista) e o produto final (o lucro).
Inseridos neste contexto, a máquina capitalista devido ao constante funcionamento e a acelerada produção, apresenta panes e precisa de ‘consertos’ e ‘ajustes’. Tais reparos, é claro, terão um custo que, devem ser antecedidos por um planejamento dos gastos. Assim, com os devidos ajustes, a máquina não só se mantém em pleno funcionamento, como também otimiza seus níveis de produção, aumentam-se os lucros.
Embutida neste enredo está outra história, onde os protagonistas principais são: os problemas ambientais da atualidade e o IPCC (sigla em inglês do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), vilão e herói- respectivamente atuam em um cenário apocalíptico onde o aquecimento global e as catástrofes ambientais imperam.
Eco (2008) estabelece como apocalíptico, o teórico que sobrevive de confeccionar  a decadência da sociedade em função da indústria cultural e da cultura de massa e usa os mesmos canais alienadores da sociedade para difundir suas próprias idéias. Eco  ainda questiona: “ Até  que ponto não nos encontramos ante duas faces de um mesmo problema, e não representarão esses mesmos textos apocalípticos o mais sofisticado produto oferecido ao consumo de massa?’’
Os personagens coadjuvantes de todo este enredo são os países envolvidos no protocolo de Quioto ( do Anexo I ou não) que aliam- se num processo de eficiência econômica indiscutível mas de valor de conduta duvidosa. Tomam as implementações conjuntas, como mecanismo flexível de negociação entre as partes para reduzir os níveis de emissões com medidas em outro país.
A exemplo, como medidas infalíveis, a favor do desenvolvimento sustentável da humanidade,  temos o seqüestro de carbono, através de reflorestamento- medida simples de captura de CO² e o discurso de mecanismos de desenvolvimento limpo.
Mas, por trás deste embate do bem contra o mau, se esconde um jogo de interesses, onde o processo de compra e venda resulta no fortalecimento do sistema capitalista. E é aí, que toda a moral da história reside: a comercialização de tudo e todos. Inclusive dos valores e conduta estabelecida nos acordos de política e gestão ambiental- até mesmo a meta de redução de CO² pode ser negociada, como se sabe no comércio de redução de emissões; ou ainda na venda de agro combustíveis que prometem poluir menos mas que na prática, só cumprem o papel de abrir um mercado consumidor promissor, sustentável . Pois, como se sabe, não há geração de energia limpa.
A verdade, quanto à degradação do meio ambiente, é turva. Clara, são as intenções que cercam a divulgação dos ‘problemas ambientais’ e as ‘medidas necessárias para um desenvolvimento limpo’: contaminar o mundo com pensamentos ecologicamente corretos, para que o rio de interesses e do capital, não se contamine com atos de questionamento.
Foi então assim, inventada a solução para manutenção do sistema: os problemas ambientais.


REFERÊNCIA
ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. Coleção Debates: 6ª ed. S.Paulo Perspectiva, 2008.